"Eu me deixo ser." C.L.

Repúdio  à quem compara minha sexualidade a psicopatologias como pedofilia ou necrofilia. Querido jogador de vídeo game, vc vive nesse mundo? Acaso foi vc que foi estuprado durante 9 anos de sua vida? E silenciou por cuidado a sua família?
Vc viveu a pressão de uma gravidez em que ninguém te alimentava por te julgar culpada por um homem te forçar a engolir entre as pernas o Pau dele? Acaso passastes pela situação de ir com o feto parido em mãos p um hospital sozinha numa noite fria pq ninguém pagaria o táxi p vc?

Já saiu da tela do PC pra viver uma relação saudável onde ambos são ouvidos, vivência dos e respeitados? Se sim muito me admira comparar um bicho causador de coisas horrendas como as que citei acima e vivi -enquanto vítima dos 10 aos 19- com seres humanos que na normalidade do desenvolver sentimentos dentro de sua espécie , sonha em ter uma vida de respeito, compreensão e amor.
Muito me espanta saber que ainda teremos muitos anos de convivência  com qse bichos como vc!

É considerado morte tomar café da manhã na cama enquanto assiste e, de 'consciência' retomada, perceber que já anoiteceu? Que um dia inteiro fluir e vários movimentos, ações, caminhadas foram feitas durante essas horas, árvores balançaram muitas vezes em diferentes direções, cachorros correram atrás de outros e, mesmo excluso de toda essa folia, a inércia  te é confortável? Isso não é morrer também?
Casos, atos, acontecimentos, entes somem.
A cada balancear  de amendoeira da rua vizinha,
Mas sempre somem deixando rastros de pães.
Pães caseiros e únicos, acrescidos de sabedoria, manias, medos, cheiros, texturas, sons.
Em 2005, um gato sumiu. Acho que levou com ele uma lã invisível cuja ponta ficou dentro de um quarto amarelo cheio de luz do sol. Esse fio de linha cantava ' A sua' de Marisa Monte. Uma garotinha se agarrou a voz da lã e de tanta dor transformou aquele artefato multiutilitário em um belo cachecol pra dois e até os dias de hoje - pouco usado para não desbotar- é usado pra simbolizar o amor real de irmãs de alma.
Quando a senhora da rua I sumiu em seus sonhos espalhar um cheiro de perfumes que marcavam as suas filhas pela casa, escreveu n ar ( em meio ao jardim) histórias de hospital, e no ouvido de quem observava incrédulo seu sono deixou ouvir conversa de botequim.
Houve um tempo em que amigas falavam sobre tudo: " Abacates sem açúcar -  melhor lanche da madrugada", "1º transa com o sol", "O beijo entre elas mesmas", "a paixão pelo marido da bruxa", " a morte e os caminhos que traziam ela". Elas sabiam que quando ela chegasse, aquelas amigas fariam um vídeo de faxina em seu quarto, e que quando - ao sétimo mês -fosse levada pela morte, Caetano lançaria Gayanna (uma espécie de presente divino), que as cebolas nunca mais seriam descascadas sem uma pancada de faca e as formas de bolo seriam untadas com filtro de café.
Há pouco, uma guerreira sumiu. Tecnicamente, temos todo o mapa de como ela conseguiu sumir. seguimos tudo, tudo! Mas, contê-la era impossível. Um sumiço que vem como asas e força não há natureza humana que impeça. Algumas pessoas ainda não entenderam que o sumiço foi validade. Porque, apesar de todos os cheiros, palavras, ditados, gargalhadas, ares, só paira o silêncio de quem espera. E já dizia Guimarães Rosa  "Esperar é um atoa muito ativo!"
Eu me pergunto porque não se pode falar da morte
Ou do que passou?
Acordei lembrando como durante alguns anos, a ideia
de ter o poder de sumir em minhas mãos era empoderada e real.
E como, ao longo dos sumiços vivenciados, me fizeram acreditar que poderia ser
ilógico, irreal e irresponsável. Ora! Existe cuidado e zelo maior do que permitir-se
ir mesmo sem saber o que há quando se vai ao encontro do portal entre tudo e nada?
O portal do início do universo? O princípio?

Estou com raiva.
Estou com raiva de mim.
Estou com raiva porque quero voar.
Estou com raiva porque quero morrer.
Estou com raiva porque quero colo.
Estou com raiva porque quero falar e ser só ouvida DE VERDADE, não só escutava.
Estou com raiva porque pra matar a possível dose de amor por uma mulher
                           Dei pra um homem.
                           Dei pra dá prazer. Não prazerei.
                          Como não foi prazeroso os 8 anos de estupro também.. aqueles lá trás.
                          Fui machista, quis quebrar a beleza do sentimento com o uso de mim.
                                                           Porque todos me usam.
                                                           Sou boa pra tudo.
                                                           Boa ouvinte.
                                                           Boa cuidadora.
                                                           Boa doceira.
                                                           Boa cameira.
Não sou boa em ser quista.
Não sou boa em ser amada.
Não sou boa em segurar filhos no útero merda daqui.
Não sou boa em chorar as percas de meus filhos que de sustos já são tão desejados.


Um dia desses, pari.
Foi sem querer.
Estava só.
O resto daquela que amo. Pronto, amo.

Mas, eu queria era que minha roommate esteve comigo.
Que minha mãe do coração esteve comigo.

Como foram ruins e silênciosos aquelas tantas horas de balão.

Me prometeram o choro, mas ganhei mais silêncio. Mesmo tendo sido disciplinada o suficiente pra não dar trabalho a ninguém.


Não chorei.
Não contei pra quem eu queria contar.
Ninguém quis dividir essa dor comigo.
Ninguém chorou comigo.



Ainda não posso fazer tudo.
Mas tudo que eu queria era desabar num colo que me pudesse me ouvir.
Como o meu já foi de tanta gente.
Sim. Eu sou egoísta quando penso que quero o carinho recíproco.
O cuidado recíproco.







O silêncio é meu veneno.
Me calando, me podando e não mais ouvindo... as pessoas me matam.
Sou um doce e a cada dose de mudez meu mundo, meus olhos, meu corpo, meu útero ferido açucara.

Saí com os mesmos amigos de conversas contrangedoramente engraçadas na sexta tbm.
Como de costume, não fui pra aula pq queria rir.
Na aula, não tomei minha dose suficiente.
Isso de precisar de analista é chato.
Eles foram engraçados e enfim, o que sempre são.
E, apesar de trabalhar isso na minha cabeça como fruto de minha imaginação sombria, eu estava costumeiramente sobrando ali.
Foi vergonhoso entender que, enquanto falava confortável, eles cochichavam uma maneira de mudar de assunto p que eu me calasse.
E eu não tive coragem de bater de frente.
Esperei ansiosa p chegar a minha casa, deitar em minha casa e chorar a solidão contida de alguém que não se encaixa.
Que não encontra ombros.
Que, aos quase twenty six, não tem nada sólido, só o artificial.